terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ser e Aparência III

SER E APARÊNCIA - 3

Querer ser MAIS ou querer ser MENOS, dá na mesma: a auto-anulação parcial, maior ou menor, do ser essencial, do espírito. A obstrução do processo natural de desenvolvimento do indivíduo, do conjunto corpo-alma-espírito, que está exercendo a aventura desta determinada existência.
Só o autoconhecimento daquilo que realmente se é, permitindo a expressão progressiva da essência espiritual, com todos os seus infinitos talentos e potenciais, pode permitir o encontro com a felicidade, com a verdadeira auto-estima, com a autoconfiança plena e com o amor-próprio incondicional que, por força de sua autenticidade, desperta também nos outros a admiração, o respeito e o amor.
Então, por que cada um de nós tem a tendência de se comparar, de comparar a nós mesmos! com algum maldito modelo? Modelo imposta pela família, pela televisão, pelos amigos... para tentar obter o amor que essas instituições e grupos parecem dedicar àqueles modelos?
Por quê? Porque o amor incondicional nos foi negado.
Por isso, tentando COMPRAR esse amor, vamos nos COMPARAR aos tais modelos, e consequentemente tentar ser como eles.
Mas como que um queijo Minas pode se transformar num Gorgonzola, ou vice-versa?
É impossível.
Vamos tentando nos vender, mas jamais conseguiremos, porque tentamos nos transformar em algo que não somos, e mais cedo ou mais tarde as pessoas (de quem queremos o amor) vão perceber a fraude, vão perceber que não somos tal pessoa, e então novamente negarão seu amor e, novamente, nos sentiremos MENOS, nos sentiremos rejeitados. Só se pode comprar uma pessoa quando essa pessoa quer se vender. Mas isso só dura um certo tempo (tempo perdido). Ninguém pode transformar ninguém, e ninguém pode se transformar em alguém que não esteja em seu potencial, para tentar comprar o amor de alguém, ou de um determinado grupo de referência, ou da sociedade como um todo.
Tudo começa mesmo antes de se nascer. Quando uma mulher ou um homem deseja ter um filho, mentalmente começa a desenhar essa nova pessoa. Que seja menino ou que seja menina. Que seja loirinho ou que tenha olhos verdes igual à mãe ou pretos igual ao pai. Que seja "inteligente" (quer dizer, que se encaixe no estereótipo de "inteligente"), que venha a ser médico, ou engenheiro, ou artista de TV, ou uma boa dona-de-casa... et cetera. E assim que a pobre criança nasce, começa a ser avaliada, comparada e moldada. É colocada numa forma, como se fosse massa de bolo. Ou vai tendo suas arestas, folhas e galhos podados como aqueles arbustos das sebes que compõem os nobres jardins ingleses, que são obrigados a ficar quadrados ou cônicos... Vai sendo formatado em função dos desejos dos pais, dos outros familiares, e mais tarde dos "educadores", professores e instrutores, psicólogos e pedagogos, e também da mídia, dos meios de comunicação de massa, isto é, modeladores de massa, grandes confeiteiros a serviço dos interesses econômicos que hoje dominam o mundo.
Os desejos dos pais muitas vezes são determinados pelas suas próprias frustrações, por aquilo que eles mesmos queriam ser mas não conseguiram, provavelmente porque, por sua vez, foram moldados e podados pelos seus próprios pais, etc. Se podarmos os galhos e as raízes de uma planta, ou se a privarmos de luz (porque não queremos que ela fique tão alta ou que seus galhos cresçam demais), estaremos prejudicando seu crescimento natural, impedindo a natureza sábia de seguir seu caminho, inibindo sua energia vital. Da mesma maneira, inibimos a expressão do espírito, da força vital de uma criança, dos seus talentos e qualidades naturais, únicos e especialíssimos, gerando bloqueios psicológicos, carências afetivas e traumas emocionais que logo que a resistência da criança começar a ser minada, repercutirão em distúrbios físicos, ou seja, serão somatizadas, mesmo que isso leve 60 anos para ocorrer e que os médicos digam que "é uma doença normal nessa idade"...
Isto é, damos à vida uma criança e nos pomos a matá-la logo no dia seguinte... E tudo isso em nome das melhores intenções...

Nenhum comentário: