segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Metafísica

SER E APARÊNCIA - 2

Não há nenhum parâmetro para "medir" ou "avaliar" um ser humano. Apenas no nível da consciência, da mente, da chamada personalidade, é que as pessoas podem ser comparadas. Apenas neste nível de consciência, no nível do ego, da auto-imagem e da auto-estima é que uma pessoa pode se comparar com outras (reais ou imaginárias, modelos, personagens, ídolos, heróis, amigos, conhecidos, etc.
Só a comparação realizada pela própria pessoa é que importa. O que os outros pensam não tem nenhuma importância: é só imaginação, julgamento, e influi apenas em quem pensa, não em quem é pensado (a não ser que quem é pensado resolva pensar de si mesmo aquilo que os outros pensam...)
No entanto, o que cada um pensa de si mesmo traz grandes e geralmente desastrosas consequências. Mesmo que esse pensar não tenha qualquer realidade, no plano concreto da existência, que é a realidade do espírito. Esse pensar é só uma ilusão da mente, do ego. Mas esse pensar sobre si, esse auto-julgamento (pra melhor ou pra pior, tanto faz) traz graves consequências:
1. No plano da própria consciência, alimenta atitudes falsas, inautênticas, pensadas, copiadas, fingidas; e inibe as atitudes e os impulsos verdadeiros e autênticos, que poderiam fazer a pessoa crescer.
2. No plano da alma, no subconsciente, acumula e cristaliza emoções negativas de todos os tipos que, por sua vez, inibem a expressão e a livre fluência das emoções espontâneas, especialmente das que conduziriam à claridade, à alegria e à felicidade.

Como dissemos no primeiro artigo dessa série, a raiz de todo esse mal é a comparação.

As comparações começam logo ao nascer, por parte da família, assim que o bebê chega a casa. "É a cara do pai", "tem o jeito da mãe" e outras barbaridades do tipo. Isso continua, claro, cada vez com mais intensidade, até e principalmente quando a criança começa a adquirir consciência daquilo que lhe é martelado nos ouvidos. Então começa um processo pavloniano de condicionamento. Através de estímulos positivos, como sorrisos e agrados, aos quais a criança é muito sensível; e de punições como caras-feias, gritos ou mesmo coerções físicas. Um certo modelo é adotado para moldar ou formatar a personalidade da criança, inibindo a livre expressão do seu espírito autêntico e único (portanto, diferente de qualquer modelo). Esse modelo apresentado pelos pais e demais familiares à criança provavelmente reflete as frustrações deles mesmos, aquilo que eles, por sua vez, acham que "deveriam" ter sido.
Mas o pior de todo esse processo é que, aos poucos, a própria criança, além de introjetar o modelo imposto, acaba buscando seus próprios modelos, sempre tentando obter assim o amor inteiro que lhe é negado e substituído por um "amor" condicional e confuso para ela, um "amor" que ora agrada e premia, ora pune e castiga. A criança vai se identificar com o super-herói, por exemplo, quando quiser ser MAIS do que é de fato, na tentativa de obter assim o amor incondicional.
Mas, infelizmente, ela não pode voar e nem possui a força de uma grua, razões pelas quais acaba descobrindo que é MENOS do que gostaria de ser, MENOS do que acha que as pessoas por quem deseja ser amada esperam que ela seja. Assim, querer ser MAIS implica em se julgar MENOS. Querer ser superior gera o sentimento de inferioridade. Complexos de inferioridade e de superioridade são só os dois lados de uma mesma moeda...
Claro que o exemplo do super-herói é só a metáfora de uma supercompensação psicológica. Normalmente, bastará um modelo mais acessível, mas nem por isso menos pernicioso.
Um outro exemplo é quando a criança se identifica com o bandido, quando quer ser MENOS do que é de fato, apenas por rebeldia a toda essa cobrança para se livrar de uma vez por todas dela, pelo caminho da desistência, da negação. Geralmente, temos aí a criança tímida ou deprimida. Quer ser MENOS para tentar ser MAIS especial, MAIS diferente, orgulhosamente se negando a participar da competição, do concurso de talentos, da constante e opressiva comparação.
Achar que se é MENOS, no entanto, também resulta em MENOS; é negação voluntária da vida, negação do espírito e dos seus impulsos básicos.

É, portanto, no equilíbrio que se pode encontrar a serenidade do espírito, a presença do Eu, a graça, a verdadeira personalidade, autêntica, original, charmosa, plena de estilo. Por isso alguém já disse que quem procura o estilo encontra a morte, e quem procura a vida encontra o estilo*.

*perdi o crédito desta citação, quem souber, please, comenta aí!

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