sexta-feira, 28 de agosto de 2009


SER E APARÊNCIA 7

Quando se tenta ser, quando se quer ser ou se finge ser MAIS, existe, na reflexão mental, consciente ou subconscientemente, sempre, a presença da dúvida. Como ser outra coisa, que não aquilo que realmente se é, é algo anti-natural, e por isso o espírito reage com a dúvida, a dúvida de que "talvez" não se seja exatamente aquilo que se pretende (já que, na realidade, não se é mesmo). Essa dúvida, na verdade saudável, gera o sentimento de incompetência, de inferioridade, de inadequação, de "derrota", de "azar" ou de perseguição (pela vida, pela sociedade ou pelo carma - dependendo da ideologia político-religiosa de cada um...). Essa dúvida é como um fantasma que fica rondando, tal como um espírito obsessor, e que frequenta os pesadelos - quando o subconsciente tenta desesperadamente dizer a verdade para o indivíduo de que faz parte...
Além disso, a sociedade, cruelmente competitiva, obsessivamente comparativa (como na escola, que dá notas) colabora constantemente com essa dúvida atormentadora, reforçando o sentimento de ser MENOS, resultando no complexo de inferioridade e destruindo a força do espírito. Para isso também cooperam a família e seus valores hipócritas, a escola e suas pedagogias equivocadas, a religião e suas leis ultrapassadas, a mídia e sua aclamação dos supostos vencedores, dos falsos modelos de pessoas felizes e realizadas, que não são, no fundo, nem tão felizes, nem tão realizadas, nem bonitas, nem talentosas, pelo menos não necessariamente... Seja como for, não são mais especiais nem mais importantes do que ninguém. São só... famosas!
Famosas simplesmente por serem famosas...
Aí todo mundo quer ser famoso, porque ser famoso parece poder ser amado incondicio-nalmente por muita gente. Mas não é bem assim: na verdade, não existe amor mais cruel e exigente que o amor do público. E nem mais efêmero. E também não existe amor mais vazio, porque o público ama modelos, baseados em outros modelos que, portanto, não têm conteúdo. Modelo é casca, molde, forma, embalagem, aparência. Por isso se fala tanto na solidão da fama, quantas vidas de pessoas famosas e idolatradas terminaram em tragédia? Marilyn Monroe, Elvis Presley, Elis Regina, Greta Garbo, James Dean, Janis Joplin, Raul Seixas, Michael Jacksion, Aírton Senna. Ah, mas no caso do Aírton foi acidente... Sim, e por quê? Na visão metafísica, cada pessoa patrocina sua própria morte, seja por acidente, assassinato, doença ou suicídio. Na verdade, toda morte antes do tempo que seria normal viver é uma forma de suicídio. Até morte por bala perdida é suicídio. Quem nunca ouviu a história de pessoas que perderam o vôo ou mudaram de idéia pouco antes do avião cair? Então, por que aquela pessoa estava exatamente ali, no caminho da bala? Por acaso? Não, nada é por acaso, tudo tem uma razão de ser, tudo tem uma causa, e a causa está sempre dentro de você.
O verdadeiro amor e admiração que fica para sempre, e que realiza de verdade, é aquele gerado pelo ser, não pela aparência. E o ser não pode ser moldado, formatado, maquiado, ou deixará de se desenvolver de sua própria maneira, sempre única e diferente de tudo o que já existe. Querer ser MAIS implica em moldar-se a um determinado padrão. Esse padrão é, necessariamente, diferente daquilo que você é em essência, potencialmente. Não interessa se é melhor ou não. Isso não existe. Porque a cada pessoa é dado um lugar no universo, uma função, um destino que só ela pode (ou não) cumprir.
De qualquer forma, não desenvolver seus potenciais é sempre MENOS do que poderia ter sido. Por exemplo, ele quis ser jogador de futebol prá ganhar muito dinheiro e ser famoso - e deixou de ser médico, que era seu verdadeiro talento, bloqueado pelo medo (do estudo, do trabalho, do fracasso, da crise econômica, do desemprego, da responsabilidade, etc.) Não que ser médico valha MAIS do que ser jogador de futebol. É apenas diferente. Se uma pessoa tem talento para jogador, e se torna médico (talvez atendendo ao sonho do pai frustrado), ela também se torna MENOS. Porque vira um médico sem talento, mecânico, desestimulado, sem amor pelo que faz, sem vocação e, além de tudo, frustrado por não ter sido jogador de futebol... "Vocação" vem de voz, e a voz é a janela do espírito, é por isso que no início era o verbo...

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