sábado, 19 de setembro de 2009

AS DORES DA ALMA E SEUS REMÉDIOS


1. NÃO EXISTE ESCOLA PARA O AMOR

Para começar, não há escola, cartilha ou manual para as coisas mais complexas da vida, como as relações familiares. Há alguns ranços morais, religiosos ou oriundos da tradição e dos costumes, como por exemplo "honra pai e mãe". Mas não há "honra teu filho, teu irmão, teu tio"... Você aprende que deve respeito aos pais e aos mais velhos; mas não ao irmão, e aí vive brigando com ele... E mesmo o respeito aos pais é tão equivocado, imposto e unidirecional: é uma obrigação. Primeiro, porque respeito verdadeiro se constrói, não se impõe e, segundo, porque não há a contrapartida do respeito dos pais pelos filhos, por seus temperamentos, essências e verdadeiras vocações.
Não há escola, cartilha ou manual também para os relacionamentos amorosos, tão complexos, ainda mais agora que, depois de 1600 anos em que a mulher viveu um papel estrito, tudo mudou violentamente há apenas 100 anos, o que é relativamente muito pouco tempo. E se o papel da mulher mudou, o papel do homem, embora não tenha mudado, ficou velho, e também vai ter de mudar... Se hoje os homens dizem: "como mulher é complicada!", esperem, mulheres, para ver como que os homens vão ficar complicados quando começarem, por sua vez a mudar, porque terão de mudar... Não há escola, cartilha ou manual para as coisas mais complexas da vida: como também o são as amizades e as relações profissionais. Vemos apenas algumas coisas esparsas, artigos em revistas ou até livros, mas são pontuais e pouca gente interesse em estudar a sério, mesmo porque não são artigos sérios, e principalmente porque as pessoas tem a ridícula pretensão de achar que já nasceram sabendo...
É por isso que surgem as dores da alma.
Se você pega uma bicicleta e começa a andar sem ninguém lhe ter ensinado, ou mesmo quando alguém ajuda, é claro que vai cair e se ralar... Se você vai cortar legumes sem ninguém lhe ter passado uma técnica, é claro que vai cortar o dedo. São dores físicas. Ora, nos relacionamentos amorosos, familiares, amigáveis e profissionais, para os quais não teve educação, é claro que mais cedo ou mais tarde você vai se machucar, e surgem então, inevitavelmente, as dores da alma. Pode-se argumentar que toda criança recebe uma educação, mas a questão é que essa educação é pura hipocrisia, pois não ensina os verdadeiros valores da vida. Ensina a respeitar, agradar e ser gentil com os outros, para dessa forma angariar a aceitação e a benevolência dos outros; mas não ensina o auto-respeito, a autoconsideração, a auto-estima, o amor-próprio e a integridade de alma. Então você vai se machucar.
Quando ralamos o joelho ou cortamos um dedo, vamos buscar o remédio adequado: o mertiolate, a bandagem. Temos consciência de que se temos dor de dente, precisamos ir ao dentista para receber o adequado tratamento, sabemos que não adianta só encobrir a dor tomando analgésicos. Mas, para as dores da alma, das quais geralmente temos fraca consciência, é exatamente o que fazemos: ficamos tomando remédios que fazem as vezes de analgésicos ou anestésicos temporários, e vamos tomando os mesmos "remédios" todos os dias, formando hábitos. E são às vezes vários tipos de remédios sobrepostos. E assim não curamos o mal pela raiz, pela causa, pela etiologia. Esses "remédios", uma vez tornados hábitos, se tornam em vícios a que nos apegamos para abafar as dores da alma que não queremos ver (porque doem e porque nos humilham).
Esses vícios são adquiridos por pessoas que buscam constantemente distrações. "Distrair" que vem de 'dis': "para vários lados" mais "trair", numa interpretação livre; na etimologia oficial: do latim 'distrahere' puxar ou arrastar em diferentes sentidos*. Ou seja, ao se distrair, você se trai para vários lados, se trai com várias coisas do mundo: TV, jornal, música, bate-papo, rádio, livro, filme, novela, trabalho, obsessões, manias... Todas essas coisas que podem ser boas em essência (ou quase todas), mas a gente as usa como drogas, para esquecer de si, aplacar as dores da alma criadas pelos tombos que levamos na vida, machucados que não curamos, que apenas amortecemos, anestesiamos, porque não há escola para a vida...
CONTINUA...

Nenhum comentário: