sábado, 22 de agosto de 2009

Metafísica

SER E APARÊNCIA - 5

Um antigo axioma da filosofia oriental diz que "Todo desejo gera frustração".

Vamos entender isso. Toda expectativa gera frustração. Criamos expectativa quando determinamos ou definimos exatamente como será alguma coisa ou experiência que estamos esperando obter. Ora, determinar significa "dar término", assim como definir significa "dar fim". Isto é, imaginamos como deverá ser a coisa pronta, acabada, finalizada, terminada. A coisa que pertence ao futuro. Futuro que, obviamente, ainda não existe. Portanto, coisa ou experiência que ainda não existe. Então, quando a coisa acontece, mostra-se necessariamente diferente daquilo que imaginamos no passado. E então nos frustramos e dizemos: "Eu não tenho mesmo sorte! As coisas nunca acontecem do jeito que eu quero! Deve ser o meu carma..." Assim, a expectativa, a pré-determinação (pretendida e imaginária) do futuro, destrói a maior parte do prazer que a coisa poderia nos trazer, ou do crescimento que a experiência poderia nos proporcionar. Depois dizemos que a vida é um saco, um tédio, que nada de novo nos acontece, nada de interessante...

No entanto, ainda pior que a frustração que obtemos de coisas ou experiências, é aquela que temos das pessoas. Queremos alguém para namorar e, quando conhecemos alguém, já havíamos gerado previamente uma enorme expectativa de como essa pessoa deveria ser. Obviamente ela não é assim, o que faz com que, mais cedo ou mais tarde, nos decepcionemos e nos frustremos com ela. E aí colocamos a culpa nela, como se a pessoa fosse responsável por nossas ilusões românticas... É claro que esse processo é dominado pelo subconsciente, e por isso, muitas vezes, acontece o contrário, como no caso da pessoa que já teve muitas decepções amorosas e acaba acreditando num padrão negativo, gerando uma expectativa ruim, o que atrai pessoas que se encaixam exatamente nesse padrão. Nesse caso, é até recomendável que se mentalize um padrão positivo, para neutralizar o negativo e quebrar o círculo vicioso. Mas isso é assunto prá outro lugar.
(Antes de prosseguir, preciso esclarecer que, para tornar esse texto mais claro, estou pintando um quadro negro demais. Estou exagerando e generalizando demais. É claro que nem todo mundo é assim, algumas pessoas são mais e outras são menos, caso contrário eu estaria negando o próprio mote do texto, que é o respeito à infinita diversidade existente entre as pessoas. Portanto, se você, leitor, está aí esperneando: "mas eu não sou assim, eu nunca fiz isso com o meu filho!"... está bem, não fique zangado. Tente, mesmo assim, clarear ainda mais sua percepção da vida e das pessoas, ou do que talvez seus pais tenham feito com você.)

Quero dizer que geralmente criamos expectativas em relação a um filho que tornarão essa experiência difícil e frustrante. Por isso dizem coisas ridículas como "ser mãe é sofrer no paraíso"... Não quero afirmar que os pais sejam os grandes culpados por essa situação. Primeiramente, porque a noção de "culpa" é apenas um instrumento de dominação e tortura psicológica criada pelas culturas hebraica e cristã ("cristã" que nada tem a ver com o Cristo). É mais correto e proveitoso nos atermos às causas de uma situação para, removendo-as ou neutralizando-as, consertarmos a situação, do que elegermos um culpado para crucificar. A idéia de "culpa" só alimenta a mágoa, a raiva, o ódio e o próprio sentimento de inferioridade. A sensação dessas emoções projeta a "culpa" em nós mesmos. Alziro Zarur dizia que o "ódio é um punhal apontado para o peito de quem odeia". Não é curioso que o valor moral maior das igrejas cristãs seja o perdão? Mas não foram elas mesmas que inocularam em nós a idéia de culpa? Podemos cultivar o perdão para neutralizar a idéia de culpa e as emoções negativas como raiva, mágoa e ódio, tão arraigadas dentro de nós. Mas é melhor usarmos a razão para compreender que tal idéia e tais emoções são de todo descabidas, e cortarmos assim o mal pela raiz.

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